“Ter um propósito de vida, ainda que somente mais ou menos definido, ajuda a diminuir o estresse”.
Essa frase é do musicoterapeuta mexicano Juan Carlos Camarena, e foi compartilhada na oficina ‘Exploração do propósito de vida através da Musicoterapia Humanista’, que aconteceu durante as ‘Jornadas de Musicoterapia online – Hablando el mismo lenguaje’, no sábado, 06/03.
Em tempos de pandemia, em que muitos de nós se veem com os níveis de estresse mais altos, o questionamento pode ser bastante válido: “Qual é o meu propósito de vida?”.
Benefícios
Camarena explica que quando podemos compreender o porquê de estarmos aqui – não em um nível racional, mas sim em termos de sensações e emoções –, é muito mais fácil diminuir o estresse. ‘Há, inclusive, a melhora da resposta imunológica, da saúde cardiovascular, diminuição de tensão e também aumento da autoestima, da vitalidade e da sensação de pertencimento’, enfatiza.
Para a oficina, o musicoterapeuta convidou os participantes a se observarem enquanto escutavam músicas previamente escolhidas por ele. Para tanto, foi necessário que todos mantivessem suas câmeras ligadas, pois assim Camarena poderia perceber qual música usaria na sequência de acordo com as reações que via nas telas.
A observação foi guiada através do Modelo de Personalidade da Musicoterapia Humanista, concebido por Víctor Muñoz Pólit.
Cebola a descascar
Dentro desse modelo, teríamos, todos, quatro camadas, que poderiam ser ‘descascadas como cebolas’: a mais externa seria o Ser de Proteção, ou Máscara – “como queremos que nos vejam e o que queremos ocultar?
Podemos exibir uma máscara ou a nossa essência; o mais importante, no entanto, não é necessariamente mostrar somente a essência, mas que eu mesmo possa distinguir o que estou mostrando no momento”.
Em seguida, viria a camada do Ser Destrutivo, ou lower self (que corresponderia, na psicanálise, à pulsão de morte, ao instinto, impulso). “Temos todos uma parte que busca agredir, atacar ou defender.
É uma agressão natural, que faz parte dos seres humanos. A questão é: o que fazemos com essa agressão? Se a deixarmos oculta, ela pode aumentar. Se a trouxermos para o consciente, podemos utilizá-la para construir, nos apaixonar, dizer não ̶ colocando limites. É uma forma de defender a vulnerabilidade que, porventura, não conseguimos sentir”.
A terceira camada seria a mais alinhada ao modelo Humanista, chamada Ser Vulnerável. “É a porta para nos conectar com nossa essência. Se não nos permitimos tocar na dor, reconhecer o que machuca, é difícil chegar na essência do que somos”, frisa o musicoterapeuta. A quarta camada, então, seria a do Ser Essencial.
Que vejo de bom em mim?
Depois de passar pelas quatro camadas, os participantes foram convidados a pensar em suas próprias qualidades e em como poderiam fazer para colocá-las em prática, esboçando, assim, uma frase que sintetizaria um propósito de vida.
Camarena entende, ainda, que o mundo nos vende a felicidade como um destino, um lugar a chegar, quando, na verdade, ela é um processo. “O propósito de vida não é algo que se cria; ele se revela”.
Sobre a Musicoterapia Humanista, Camarena explica que o objetivo do musicoterapeuta é empatizar. Por esse caminho, é importante aprender a diminuir, ou mesmo eliminar a ansiedade ao atender os pacientes. “Sem ansiedade, conseguimos nos colocar abertos e flexíveis. A flexibilidade me permite estar em mim. O que me acontece quando vejo alguém muito angustiado? Tenho que me observar, observar os pacientes e a música. Se não há flexibilidade, não se sente empatia e fluidez”.
As ‘Jornadas de Musicoterapia online – Hablando el mismo lenguaje’ foram organizadas da Colômbia, por Camilo Ruales (CRM Musicoterapia) e Caroline Sánchez (Anandi Medicina Integrativa y Musicoterapia).
Texto: Cláudia Schaun Reis Publicado originalmente nas mídias da Heart Beat Musicoterapia, em 09/03/21.
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