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Uma pessoa que atravessou o luto é alguém que volta a sonhar




A reação natural diante de perda significativa é caracterizada como luto – podendo acontecer em relação a uma pessoa amada, um animal, um trabalho, à saúde, à juventude ou ao convívio social e à liberdade, durante a pandemia. É um momento de dor e incertezas; muitas vezes, também, de rever toda a vida.


A musicoterapeuta argentina Patrícia Lallana Urrutia pesquisa o tema e o vivencia no dia a dia no Hospital Clínico Universidad de Chile, onde oferece sessões de Musicoterapia – “muitas vezes uma única sessão para cada paciente” – e os auxilia, junto a suas famílias, a elaborarem esse processo. Durante as ‘Jornadas de Musicoterapia online – Hablando el mismo lenguaje’, ela compartilhou com participantes sua experiência na oficina ‘Estratégias musicoterapêuticas no processo de luto’, ocorrida no domingo, 07/03.


Citando a obra de David Le Breton, ‘El silencio’ (Editions Metai lie, Paris, 1997), Patrícia contextualiza o momento do luto: “A linguagem fica bloqueada – não há palavras. A língua se faz em pedaços, é uma carga afetiva tão poderosa que arrasta tudo a sua volta. É como se interrompesse a existência”.


O processo terapêutico, então, de acordo com ela, teria como objetivo tornar o silêncio do desaparecido menos ensurdecedor. “Uma pessoa que atravessou o luto é alguém que volta a sonhar”, enfatiza.


A musicoterapeuta utiliza, entre várias ferramentas, as teorias da Experiência Somática e, ainda, da psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross, as fases do luto: negação, ira, negociação, depressão e aceitação.



Da negação à aceitação


Patrícia relata casos em que se pode atravessar essas etapas a partir da musicoterapia. “O paciente pediu para cantar uma música em que a letra falava sobre partir. A família não dialogava sobre isso, havia a negação. Todos estavam no quarto, cantaram, tocaram e, depois da música, puderam conversar e se despedir”.


Ela afirma, ainda, a importância de se envolver não só a família como também os profissionais da saúde. “Participando das sessões, eles deixam de lado o piloto automático e veem a família e o paciente de outra maneira”.


Uma das formas de se trabalhar com esse público é resgatando algo que, num hospital, o paciente acaba perdendo: sua autonomia. “Ele fica passivo, não pode decidir nada e isso o frustra muito. É importante, então, que escolha os instrumentos para sua improvisação – o seu e os que cada membro da família, e também os profissionais que o atendem no momento, irão tocar. Que decida o ritmo e a intensidade”.



Como trabalhar com o luto?


Patrícia entende ser fundamental que os musicoterapeutas possam olhar para seus próprios lutos não elaborados e “confiar na capacidade de gerar vínculo. Mesmo as sessões focais, únicas, são capazes de proporcionar grande alívio aos participantes”.


O mais importante, de acordo com ela, “é o contato com o outro, escuta e presença compassivas. Não é sentir dor pelo outro; é colocar-se em seu lugar, como uma humanidade compartilhada”.


As ‘Jornadas de Musicoterapia online – Hablando el mismo lenguaje’ foram organizadas da Colômbia, por Camilo Ruales (CRM Musicoterapia) e Caroline Sánchez (Anandi Medicina Integrativa y Musicoterapia).


Texto: Cláudia Schaun Reis Publicado originalmente nas mídias da Heart Beat Musicoterapia, em 15/03/21.






 
 
 

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